D de Draze
Dor
Passados dois meses de fogo cerrado sobre o departamento médico desta belíssima instituição, urge corrigir muitas mentiras exógenas e, pasmem-se!, endógenas.
Refiro-me ao ocorrido na futebolada de 28 de Setembro, no pavilhão do Centro de Estágios Joaquim de Araújo (não se vai abordar o suposto desvio de fundos camarários para a construção do referido centro, assunto a cargo do departamento jurídico, que até já terá destruído os documentos) – sim, pavilhão porque o «mau tempo» assustou algumas vedetas do clube (onde estão as carapaças rijas de raspar no cimento que se viam no antigamente?), enclausurando os jogadores num paralelepípedo que ameaçava o regresso das infames tabelas, ideia prontamente descartada pelos membros mais tementes às regras escritas do jogo, que logo estabeleceram linhas para amordaçar o talento dos jogadores. Num ambiente caseiro que até contava com a presença de alguns dos eternos arqui-rivais Fixes (dizem as más-línguas que tal se deveu a pagamento de favores a membros da direcção, nomeadamente o Director de Marketing), os atractivos deste jogo resumiam-se à recém-contratada repórter de imagem e a uma conferência de imprensa pré-jogo de Ciroco, que usara o nome do grande Nódoas Negras para lançar a sua carreira política e almejava o pelouro do desporto do movimento Penafiel Quer. O jogo em si, como é habitual nas lides nodoanegrinas, teve menos interesse do que a envolvência, não fosse um desfecho de que falaremos abaixo: destaque-se apenas o regresso a bom nível de Castro, cujo visual a lembrar Raul Meireles foi por muitos interpretado como um piscar de olho à Liga Turca (o presidente Drakcap, desde há uns meses ausente em Estocolmo em prospecção de suecas, não fez comentários sobre uma possível transferência).
Porém, tudo isto é insignificante perante o momento do jogo. Pouco depois da linha do meio-campo no lado direito de quem ataca, Draze pegou na bola para tentar um arranque que lhe desse a linha para cruzar, enquanto Shentog (sendo um relato futebolístico, usa-se a terceira pessoa), lesto, ganhou a posição – note-se que, embora em baixo de forma, Shentog continua temível na velocidade em distâncias curtas, à semelhança do urso, seu modelo físico actual. Como o momento linear não perdoa, a jogada acabou mal: ambos embateram com violência na parede, Shentog com a cabeça e Draze com os braços. Afastada a hipótese de TCE em Shentog (pelo próprio, que depois de alguns segundos inerte em decúbito dorsal se considerou apto a continuar), o mesmo Shentog, membro do departamento médico do clube, prontificou-se a examinar Draze, que se queixava do braço e afirmava ter ouvido «alguma coisa a estalar»: apesar dos testes de força se terem revelado inconclusivos, Shentog mostrou-se céptico quanto à possibilidade de fractura e recomendou gelo, falando ao de leve numa hipotética ida ao hospital. Draze decidiu-se pela última hipótese e o resultado – fractura do rádio do braço direito e do pisiforme da mão esquerda – deixou o departamento médico do clube sob pressão, havendo relatos de pedradas a Shentog – cuja defesa assenta no estado de confusão em que se encontrava após o embate e que aproveitou o ocorrido para exigir meios complementares de diagnóstico para o departamento médico do clube – aquando das suas corridas pelo bosque de Santa Marta. Kinhe, o outro médico do clube (não se encontrava presente à data dos factos), está em parte incerta.
Contudo, o circo gerado à volta dos desenvolvimentos clínicos desviou a atenção do fundamental: os envolvidos recusam-se a atribuir culpas e os vários adeptos presentes nas bancadas afirmam que ambos os jogadores foram projectados, o que aponta para uma possessão espírita à qual a presença de Poltergeist Ciroco em campo não será alheia.
Draze ficará de fora um mês, que se adivinha mirabilis para os GNRs com IMC<35 (cerca de 5% do contingente penafidelense) pois poderão usufruir dos vários recintos desportivos da cidade sem perigo de humilhações.
Ass: Dr. Pedro Shentog "The Bringer Of Rain" da Gama