Kinhe é um exemplo do jovem português contemporâneo: capaz, inteligente, inconformado, cheio de ideias e sonhos. Mas à semelhança do jovem português contemporâneo, percebeu que a crise lhe tapara as saídas profissionais na Pátria mãe, e que acabar o curso, ao invés de uma vitória, seria apenas outro mar de dúvidas e infortúnios para ser navegado.
Assim, Kinhe mal soube de um amigo que tinha ido para a Suíça trabalhar na construção civil, não pensou duas vezes. Falou com um presidente de Junta de freguesia seu amigo, com obra feita na Suíça, que lá lhe arranjou trabalho e casa. Assim começou a aventura de Kinhe como operário da construção civil, em Tessin, na Suíça Italiana. Kinhe ainda ponderou ir para Lausanne, na Suíça Francesa, mas como de francês percebia pouco, e italiano sempre era mais parecido com o espanhol, optou por Tessin.
Lá, Kinhe não teve vida fácil: com patrão português, um colega de trabalho suíço (que se limitava a cumprir as 8h diárias, porque, afinal, estava no país dele), e um colega de trabalho servo (mas já a viver na Suíça desde muito novo), com quem dividiu horários pesadíssimos, primeiro em grandes obras públicas e mais tarde em remodelações e reconstruções de cozinhas e casas-de-banho. Porém, Kinhe viu-se forçado a realizar turnos de 12h e 13h, trabalhar por dois ou três, prescindir de subsídios vários, para fazer o seu trabalho, que sabia iria ser bem recompensado. Não é emigrante quem quer. Assim, Kinhe ganhou o arcaboiço físico que hoje o destaca.
Mas Kinhe, mesmo na Suíça, continuou o jovem conhecido dos Nódoas Negras. Um jovem que vive para viver. Mesmo tendo amigo suíços (com quem comunicava por gestos, e após lhes pedir que falassem mais devagar), eles sabiam que aos fins-de-semana só o encontravam no centro português de Tessin, porque Kinhe, mesmo na Suíça só parava onde estavam os seus. E dava bom uso aos milhares de francos que ganhava com o seu trabalho: afinal, chegar a Portugal de Audi R8, arrebenta.
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